Se pudesse me antecipar e conversar com a minha versão de 20 anos atrás, provavelmente diria “Invista em energia renovável. Tenha voz ainda mais ativa em discussões sobre os desafios globais. Concentre-se nas pessoas e valorize sempre a qualidade de vida”. Voltar algumas casas no jogo da vida virou, para muitos, um exercício inevitável de reflexão sobre o rumo que levamos.
Por muito tempo, foi mais fácil remoer escolhas do passado do que readequar as decisões do presente pensando à frente. Não se trata, necessariamente, de um comportamento apenas contraproducente, essa nada mais é do que uma característica do ser humano que, dia após dia, se deixa levar pela urgência do pensamento, pela lista de afazeres e pelas próprias expectativas que atribui a si mesmo. E tudo isso, em uma economia mundial que favorece soluções rentáveis de curto prazo, acaba nos aglomerando no mesmo caminho.
Felizmente, as discussões das últimas décadas têm sido mais aprofundadas e mais bem disseminadas.
O movimento por mudanças que garantam mais prazo a todos nós neste planeta ganhou força e tem gerado grande influência no mundo corporativo. Nesse contexto, a sustentabilidade deixou de ser utopia e se tornou uma realidade a partir de uma sigla mais moderna e comercial, o ESG, que passou a permear todas as etapas e processos de empresas que querem seguir ativas nos próximos anos.
No ano passado, o somatório de ativos sob gestão em fundos ESG atingiu US$ 35 trilhões, um aumento de 22% em relação a 2021. Segundo a Aliança Global pelo Investimento Sustentável (GSIA), esse montante deve atingir US$ 53 trilhões até 2025. Boa parte desses números vem de líderes cansados de lamentar os erros anteriores. Hoje, com as virtudes do ESG impulsionadas pela opinião pública, não faltam stakeholders detalhando cuidadosamente suas atitudes e influenciando conselhos a tomar decisões melhores.
A realidade mostra que investidores abandonam projetos que ignoram os aspectos ambientais, sociais e de governança. Talentos desejados por marcas globais colocam o nível de reputação de uma empresa à frente da remuneração durante o período de realocação no mercado. Vivemos uma nova lógica indissociável, é impossível viver o presente sem projetar o impacto de nossas ações no futuro.
Como toda mudança em grande escala, a adaptação leva tempo.
A má notícia é que estamos atrasados. Por isso, líderes que ainda estão perdidos precisam decidir: vale mais a pena recalcular a rota agora ou confiar na onisciência cega?
Roger Maciel é CEO da Russell Bedford Brasil e VP da ADVB
* As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da ADVB. Para publicar um artigo ou matéria neste Portal ADVB, envie para redacao@advb.org para aprovação da publicação.