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Adiar ou enfrentar, o dilema do confronto

por Professor Tarcizio Barbosa

Em situações de conflito o adiamento da escalada do confronto sempre esteve pendularmente associado a dois polos distintos: adiar para preparar e adiar para negociar.

Os mais inteligentes adiam para negociar mas aproveitam esse tempo para preparar a força.

Os mais desavisados pensam que só negociar resolve! Esses são os futuros derrotados.

Outra máxima esquecida é aquela que ensina que “matar o mal pela raiz” é mais fácil quando a raiz ainda é tenra e o mal ainda menor…depois de enraizar e crescer o embate é mais duro e as consequências mais traumáticas.

Uma coisa permanece imutável, quanto maiores e mais duradouras as guerras, mais danos colaterais indesejados ensejarão.

Agora mesmo vemos essas consequências em três conflitos que foram em um crescendo despercebido – ou ignorado – e estão ainda sangrando populações.

Desde 2014, quando a Rússia anexou a Criméia era patente a vontade de Wladimir Putin em restaurar o poder hegemônico da extinta URSS, chegou a declarar literalmente que a dissolução dela, em 1989, “foi o maior erro estratégico da Rússia”. Só não percebeu suas intenções quem não quis!

Jamais a Rússia vai devolver Sebastopol, na Criméia (sede da frota russa do sul) para a Ucrânia por meio de negociações diplomáticas principalmente depois que essa anexação deixou de provocar ruído internacional, estimulando a invasora a criar um corredor de acesso terrestre ligando o território da Rússia ao enclave da Criméia, pela anexação de um novo naco ucraniano: a região do Dombass.

Como resultado desses 9 anos de inação eclodiu a guerra!

Igualmente lá em Israel, a diplomacia – e a inteligência militar – caíram no engodo do Hamas que, enquanto fazia juras de não agressão em intermináveis negociações diplomático-políticas, se preparava à socapa para fazer o que fez em 7 de outubro recente.

Aqui no Brasil a política fechou os olhos para a ausência da ação do Estado nas favelas, nas áreas cariocas mais carentes e na promiscuidade do ambiente carcerário e agora se depara com um estado criminoso paralelo cujo poder está se mostrando ombreado ao Poder constituído.

O que tem em comum essas três situações?

Tratam-se de casos clássicos de miopia diplomático-política que se repetem. Vale lembrar um Melville Chamberlain desembarcando em Londres, em fins de 1938, com um “tratado” de paz assinado por Hitler, trombeteando ao mundo que havia conseguido a paz…deu tempo para a Alemanha preparar sua máquina bélica e deflagrar a 2ª guerra mundial, menos de um ano depois.

Até a véspera da invasão da Ucrânia, Putin jurava que não ia invadir…e a diplomacia mundial acreditou nele.

Em Israel era “consenso” que o Hamas, ao obter maioria no Conselho Legislativo Palestino nas eleições de 2006 e depois, ao assumir o controle da faixa de Gaza em 2007, após uma guerra civil com o Fatah, não seria mais uma ameaça, tornando-se um ente capaz de conviver harmonicamente com o Estado Judeu…apesar de seus líderes mais radicais continuarem pregando “o extermínio do povo de Davi”. O resultado dessa miopia diplomático-política aí está, ao vivo, a cores e com explosões, para quem quiser ver.

Por aqui, entre nós, o crime organizado manda e desmanda sem que o Estado legal saiba o que fazer para pará-lo.

Esses três capítulos macabros tem em comum um aspecto perverso: quanto mais se alongam as discussões diplomático-políticas, mais cresce o mal, mais difícil se torna contê-lo e mais graves serão os danos colaterais provocados pelos embates. E, no fim das contas quem mais sofre nesse meio bélico é a população civil que – teoricamente – não tem nada a ver com o embate.

Infelizmente a maioria, ou não percebe, ou não quer perceber o ônus à pagar para erradicar o mal que a cômoda inércia deixou crescer até se tornar incontrolável e romper em…guerra.

As duas lá de fora estão declaradas e as partes tentam malabarismos verbais para não assumirem a dura e crua realidade: em guerra civis inocentes morrem!

Aqui dentro o combate a esse crime organizado que já transbordou de nossas fronteiras e cujo poder de fogo é superior ao das polícias locais, ombreando-se em armas leves com as Forças Armadas regulares, deixou de ser um conflito entre polícia e bandido para se tornar uma guerra de guerrilha – urbana e rural – onde as “tropas legais” vão combater sob a peia dos defensores dos direitos humanos e o “inimigo” sem qualquer peia, freio ou ética.

Quero ver o desfecho! Mas acho que só vou ver mais do mesmo.

Ações pirotécnicas para dar satisfação à sociedade, sem resolver o problema de fundo que se resume na neutralização – aniquilação? – do inimigo…em meio a mortes de civis inocentes.

Raciocinando pelo absurdo: lembram-se como acabou a segunda guerra mundial? E quantos civis morreram nela?

Só no Japão foram lançadas duas bombas nucleares que mataram uns 150.000 civis inocentes, para preservar a vida de 1.000.000 de soldados americanos (segundo estimativas da inteligência levada para a decisão presidencial) que morreriam SE tivessem que invadir e conquistar o solo japonês.

Vamos falar sério, quantos vidas civis o nosso Governo está disposto a sacrificar para erradicar o crime organizado, em uma cruzada nacional de “tolerância zero”…sei não!


Tarcizio Barbosa
é Presidente do Conselho Fiscal da Fundação Santos Dumont e ex-Professor da Academia da Força Aérea Brasileira.

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