[bsa_pro_ad_space id=1]
HomeMERCADOArtigo assinado: "O Brasil tem jeito?"

Artigo assinado: “O Brasil tem jeito?”

Faveco Corrêa

por Faveco Corrêa

Em 1993, fui um dos líderes da campanha de revisão da Constituição de 1988, prevista pela própria Carta desde sua promulgação – fato inédito na história constitucional do planeta. Os deputados constituintes deram-se conta, já nos acréscimos do segundo tempo da histórica partida, que talvez aquele amontoado de 250 artigos não fosse exatamente o texto adequado para balizar a gestão de um país que se pretendia modernizar sob o manto da democracia e do direito: muito prolixo e abrangente, transformava quase tudo em matéria constitucional. Decidiram, então, dar uma chance para que a sociedade se pronunciasse.  Daí a inusitada cláusula da auto-revisão.

Naquela ocasião, 1993, produzimos a veiculamos uma enorme campanha propondo um novo texto, usando apenas a borracha para apagar tudo o que julgávamos supérfluo e inadequado, e propondo umas poucas novidades. Não conseguimos acrescentar nem subtrair nada. Foi o maior fracasso da minha carreira profissional, eu que me julgava um bom publicitário. Lembro que o Ziraldo ilustrou uma cartilha que distribuímos aos milhares, encartada nas edições dominicais dos principais jornais do país. Ninguém tinha feito antes algo semelhante. Foi um espetáculo. O lema da campanha era “o Brasil tem jeito, só depende da gente”.

Quando assisto a essa ópera de horrores que é a gestão da pandemia e da vacinação, entre outras coisas, começo a duvidar do lema que eu mesmo criei. A campanha vacinal de distribuição de amostras grátis (a terra da minha esposa, no interior de Minas, recebeu 22 doses), somada à incompetência generalizada, que levou o país a ocupar o último lugar nas pesquisas internacionais de eficácia na gestão da crise, vai dilapidando meu necessário otimismo patriótico, fazendo com que eu comece a duvidar que tenhamos uma luz no fim do túnel, que não seja um trem pronto para nos esmagar.

Temos que admitir que nós, o povo, não estamos fazendo a nossa parte, não só por não seguir com rigor as recomendações de manter o distanciamento social, usar máscara, lavar as mãos frequentemente e evitar aglomerações (festanças nababescas, pancadões, praias superlotadas e outras muvucas de qualquer espécie), como também por ficarmos em silêncio assistindo passivamente o processo de desmanche do que a duras penas conseguimos conquistar até agora para nossa nação. Estamos deixando o Brasil à matroca, entregue a políticos nem sempre escrupulosos que infelizmente elegemos. Consequência: as barbaridades continuam a pulular de todos os lados como se o nosso tecido social estivesse sendo esgarçado no limite do rompimento. Nunca a Lei de Gerson foi tão invocada pelos aproveitadores de plantão, que só crescem em  número e poder, insensíveis às necessidades  de um povo que continua a empobrecer, que fica cada vez  mais vulnerável e que, pelo amor de Deus e não apenas do Bolsonaro ou do João Dória, precisa ser vacinado com urgência.

Mas não é só este drama das vacinas que nos deixa indignados. Para qualquer lado que se olha vemos sujeira, lambança, roubalheira e falta de ética. Tem até corrupção para furar a fila da vacinação, sem-vergonhice que ninguém poderia imaginar.

Atraído por uma recente notícia, resolvi dar uma investigada nos podres de uma pequena parte do poder judiciário. Vejam o que encontrei.

“Salário de magistrado no RJ passa de 600 mil”. “Os valores pagos a magistrados superam em mais de 25 vezes o teto previsto para o funcionalismo”. “A presidência do TJ afirma que os pagamentos são legais” (Portal G1).

“Novatos na carreira chegam a receber entre 40 e 120 mil”. “Um juiz do TJ chegou a embolsar quase 400 mil em dezembro de 2010” (O Estado e S. Paulo).

Mais de 8.000 juízes receberam acima de 100 mil mensais ao menos uma vez desde 2017 até julho de 2020 (Folha de S. Paulo).

“Juízes e desembargadores de MG receberam mais de 100 mil em um único mês”. (O Estado de Minas).

“Remuneração de juíza do TJ de Pernambuco chega a mais de 1 milhão em novembro” (Diário de Pernambuco).

“Com aval do CNJ, juízes em Pernambuco receberam de uma só vez até 23 férias acumuladas” (Gaúcha ZH).

Penduricalhos: auxílio creche, auxílio saúde, auxílio locomoção, ajuda de custo para transporte e mudança, auxílio refeição, auxílio alimentação, gratificação hora-aula, adicional de insalubridade, adicional noturno, gratificação de substituto, gratificação de justiça itinerante, correção abono variável, abono de permanência, parcela autônoma de equivalência etc.

Parei a pesquisa por me sentir revoltado.

Esses são os cidadãos encarregados de distribuir justiça?

Em tempo: o Brasil gasta com seu judiciário, que não é lá uma Brastemp, 1,4% do PIB, contra 0,4% da Alemanha.

Será que ainda dá para acreditar que o Brasil tem jeito, só depende da gente?

Espero que sim.

A esperança é a última que morre.

*Faveco Corrêa é jornalista, publicitário e consultor.

DEIXE SEU COMENTÁRIO

Please enter your comment!
Please enter your name here

RELATED ARTICLES
RocketplayRocketplay casinoCasibom GirişJojobet GirişCasibom Giriş GüncelCasibom Giriş AdresiCandySpinzDafabet AppJeetwinRedbet SverigeViggoslotsCrazyBuzzer casinoCasibomJettbetKmsauto DownloadKmspico ActivatorSweet BonanzaCrazy TimeCrazy Time AppPlinko AppSugar rush