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O Marketing muito além do Deepfake

Por Beto Marques

Depois de muitos anos sem produzir um anúncio que despertasse controvérsias, eis que a publicidade brasileira volta à mídia com uma ideia criativa e causadora de muita polêmica.

Ao colocar no ar um filme criativo, a agência de publicidade Almap surpreendeu o público por reunir a cantora Elis Regina, que nos deixou em 1982, e sua filha Maria Rita dividindo a cena e os vocais na interpretação da icônica canção de Belchior “Como Nossos Pais”, na peça que celebra os 70 anos da Volkswagen no Brasil.

Afinal, além de ser brilhante, o que mais fez desse comercial o motivo central de tantas defesas apaixonadas de pontos de vista contrários sobre o assunto?

O grande feito desse comercial é a utilização do “deepfake”.

O fato de ter empregado a técnica, já bastante aplicada no cinema, para ‘trazer’ a cantora Elis Regina aos dias atuais interpretando um emocionante dueto com a filha, não só causou imensa polêmica nas redes sociais como provocou até mesmo um processo ético no Conar, órgão regulador da publicidade, abrindo um debate sobre os limites de uso da inteligência artificial.

Na visão dos críticos mais radicais, a progressista Elis Regina jamais concordaria em ser associada a uma marca que supostamente teria apoiado a ditadura militar.

A pergunta que faço é se a Elis Regina de um Brasil de 2023 em que pessoas de 38 anos jamais viveram nem sequer um dia sob ditadura, levaria em conta os comprometimentos de ontem com um contexto que há décadas não existe mais.

Marcos Gianelli, Chief Creative Officer da AlmapBBDO e responsável pelo comercial, lembra que a ideia teve consentimento da família de Elis, que detém os direitos do legado da artista. Em entrevista ao portal UOL detalhou como ocorreu a aprovação.

Primeiro, precisaríamos encantar a Maria Rita, porque queríamos que ela participasse, e seus dois irmãos (Pedro Mariano e João Marcello Bôscoli), que também respondem pela imagem da Elis. Ela se encantou pela ideia, os irmãos também, e todas as aprovações passaram pelos três….
Se a filha está confortável e feliz, se a reação da família e das pessoas ao redor é uma coisa linda, passa essa tranquilidade de estar no caminho certo. Acho que tudo precisa ser discutido. É um direito não gostar, de se manifestar”.

Washington Olivetto, numa troca de mensagens com o compositor Guttemberg Guarabyra, também opinou:

“Belo trabalho. A publicidade brasileira estava precisando de algo assim”.


Eu diria que não só a publicidade brasileira estava precisando de algo assim, como também os fãs de Elis e de Belchior gostariam de ver seus ídolos relembrados no voo de imensa força emocional que essa homenagem alçou e que se sobrepôs a todas as questões ideológicas que poluem atualmente os debates sobre assuntos de qualquer natureza.

A publicidade brasileira, enfim, marcou um avanço importante ao não se intimidar diante do desafio de realizar a comovente e merecida homenagem, colocando-se acima de opiniões bizarras e mesquinhas de críticos que amam o passado e que não veem que o novo sempre vem.


Beto Marques
é vp de comunicação da ADVB, curador da FBM Fundação Brasileira de Marketing e sócio diretor de criação da Gorilla Comunicação.

beto.marques@advb.org


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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da ADVB.

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