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A IA entrou na empresa e descobriu o que nem o cafezinho sabia

Por Leandro Monteiro – Colunista ADVB

Imagine uma empresa típica brasileira: tem o Financeiro que jura que Marketing só gasta, o Marketing que diz que sem ele ninguém vende nada, o RH que lembra a todos que “gente é o maior ativo” e a TI que fica repetindo: “sem sistema não tem empresa!”. Agora coloque no meio dessa bagunça uma Inteligência Artificial novinha em folha, contratada com a promessa de “organizar tudo e trazer eficiência”.

No primeiro dia, a IA (Inteligência Artificial) já começou com moral: disparou relatórios que mostravam que o time de Vendas prometia mais do que entregava, que o Financeiro adorava segurar pagamento até o último minuto, e que o Marketing gastava mais em coffee break para eventos do que em campanhas digitais. Foi o suficiente para iniciar a primeira guerra corporativa do século XXI: os humanos contra a planilha inteligente.

No almoço, a fofoca já corria solta:
— “Você viu? A IA falou que o setor de compras paga 12% a mais porque esquece de comparar fornecedor…”
— “Sério? Então explica por que ela recomendou demitir três gerentes e contratar só um chatbot pra dar conta do recado!”

O RH tentou mediar: “Gente, calma, a IA está aqui para somar”. Mas a IA, como quem não quer nada, soltou uma notificação: “Baseado nos meus cálculos, 37% das reuniões desta semana poderiam ser e-mails.” Foi o suficiente para o departamento comercial acusar: “Ela está contra a gente!”.

No Marketing, a revolta foi maior ainda quando a IA sugeriu cortar brindes de caneta e investir em anúncios digitais. O chefe retrucou: “Mas como vou mostrar minha marca se não for com uma squeeze fluorescente?”. A IA respondeu friamente: “Dados mostram que 87% dessas squeezes acabam esquecidas em academias.” Silêncio constrangedor.

Enquanto isso, a TI já estava apaixonada. Finalmente alguém que entendia as senhas, atualizava o antivírus sem reclamar e não pedia notebook novo todo ano. O problema é que a IA começou a pedir: mais servidores, mais nuvem, mais poder de processamento… e adivinha quem teve que abrir o bolso? O Financeiro, claro.

Foi quando a Logística entrou na história. A IA descobriu que 22% das entregas atrasavam porque alguém insistia em “otimizar rota manualmente”. Em cinco minutos, ela reprogramou tudo e prometeu economizar combustível, tempo e paciência. O gerente de logística, ofendido, retrucou: “Mas eu sempre fiz as rotas desse jeito!”. A IA respondeu seca: “E sempre atrasou desse jeito também.”

Na Produção, a confusão não foi menor. A IA passou a monitorar máquinas em tempo real e sugeriu parar a linha em plena terça-feira porque identificou que uma engrenagem ia quebrar em 48 horas. O chefe da fábrica, que se orgulhava de “sentir o barulho do motor”, ficou furioso: “Quem manda aqui sou eu!”. No dia seguinte, claro, a engrenagem quebrou. A IA apenas mandou um relatório com título irônico: “Eu avisei.”

E o Jurídico? Ah, o Jurídico. A IA começou a revisar contratos e apontar cláusulas mal redigidas que poderiam custar processos caríssimos. Num deles, destacou em vermelho: “A expressão ‘pagar quando possível’ não é juridicamente recomendada.” O advogado da empresa bufou: “Mas essa é a praxe do mercado!”. A IA devolveu: “Então o mercado também erra 68% das vezes.”

No fim do mês, todos estavam exaustos, menos a IA, que continuava implacável, projetando gráficos, cruzando dados e apontando que “se os humanos pararem de brigar e seguirem minhas recomendações, a empresa pode dobrar o faturamento em 12 meses”.

Mas quem disse que alguém queria ouvir? Afinal, no fundo, todos já tinham percebido a verdade: a IA não era inimiga… era apenas aquele colega que fala a verdade que ninguém queria admitir.

E em 2030?

Se hoje a IA já incomoda com relatórios sincerões, imagine daqui a alguns anos. Em 2030, talvez ela não só organize a empresa como também decida a escala de férias, negocie com clientes, escolha o cardápio do refeitório, impeça a compra de squeezes inúteis e ainda redija os votos de casamento dos funcionários.

E quem sabe, no happy hour, seja capaz de escolher a música certa para agradar o Financeiro, o Marketing, a Logística, a Produção, o Jurídico e até o RH ao mesmo tempo.

Ou seja: o futuro do trabalho não será feito de máquinas contra pessoas, mas de pessoas aprendendo a rir, negociar e até brigar — lado a lado com uma IA que, no fim das contas, só quer uma coisa: mostrar a verdade que nem o cafezinho da firma sabia.

Leandro Monteiro é executivo internacional com MBA de Varejo pela FIA e Marketing Engineer and Digital pela Université Grenoble Alpes, na França. Tem carreira em empresas globais como Heineken, Capri-Sun e BRF. Atualmente é Diretor Executivo da multinacional americana AAXIS.IO para a América Latina e colunista da ADVB, onde escreve sobre inovação, negócios e tecnologia.

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